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segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Homenagem aos Professores




É importante lembrarmos que dia é o dia de amanhã. E qual seria mesmo? Não se esqueçam, 15 de outubro: Dia do Professor. Talvez a data passe despercebida para algumas pessoas, mas não deveria ser assim...
O que seria do médico, do advogado, do engenheiro, do escritor, do arquiteto, do jornalista, e de tantos outros profissionais não menos importantes, se não fosse pelo professor que lhe ensinou as primeiras letras, que lhes mostrou o alfabeto e os ajudou a construir as primeiras frases, os acompanhou até o fim do Ensino Médio, ou até o último semestre do Ensino Superior? O que seria de um país, enfim, onde não houvessem professores?
Talvez, principalmente nós que somos jovens, às vezes nos esqueçamos da importância daquele que todos os dias entra na sala, e convive conosco o ano inteiro, e nos diz coisas às quais não damos ouvidos. Mas a verdade é que um dia nos lembraremos dele, lembraremos do que ele ou ela nos disse, veremos que tinha razão. Nós é que não sabíamos de nada. E, afinal, o que saberíamos sem eles?
Tive alguns bons professores, e sei que me lembrarei deles no futuro. Não apenas daquilo que eles me ensinaram em Química, Matemática, Português, História, Geografia e tantas outras disciplinas. Talvez eu me esqueça disso tudo. O que vou me lembrar realmente é das coisas que aprendi e que não faziam parte dos componentes curriculares. Porque o professor é na verdade o profissional mais importante em um país, pois sem a educação não há futuro ou esperança para uma nação.
E por falar em futuro e esperança, não devemos apenas nos lembrar deles. Devemos nos lembrar de respeitá-los, homenageá-los, ser gratos a eles. Eis uma coisa que falta ao Brasil. Neste Dia do Professor, vamos todos pedir por mais reconhecimento àquele que forma toda a sociedade. Não trata-se apenas de salários melhores. Quem dera se a questão se resumisse a isto! Trata-se também de respeito, de carinho, de agradecimento. Vejo em muitos lugares jovens que dizem que jamais seriam professores. Por que será? Porque sabem que o professor hoje em dia não tem o menor valor no Brasil. Digo que isto está errado. Se algo precisa mudar na nossa sociedade, então mudemos a consciência das pessoas, façamos com que se lembrem de que ainda estariam presos à ingenuidade e à ignorância, à cegueira do não-saber, se não fosse pelos professores. Porque sem eles, esta província chamada Brasil nada seria!


Obrigada, professores! Que neste 15 de outubro todos vocês possam sentir renovado dentro de si mesmos o ideal de transferir conhecimento, pois aquele que ensina, só pode ensinar bem, se houver amor naquilo que faz!



Educação é aquilo que fica depois que você esquece o que a escola ensinou.

O material escolar mais barato que existe na praça é o professor.

Um professor é a personificada consciência do aluno; confirma-o nas suas dúvidas; explica-lhes o motivo de sua insatisfação e lhe estimula a vontade de melhorar.

O professor sábio sabe que cinquenta e cinco minutos de trabalho mais cinco minutos de risada valem o dobro do que sessenta minutos de trabalho invariável.

A tarefa essencial do professoror é despertar a alegria de trabalhar e de conhecer.

Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina.











Por: Lethycia Dias

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Através do Tempo e do Vento

Creio que nada possa fazer um bom leitor mais feliz do que encontrar o livro que o prenda desde a primeira até a última página, e que o marque de diversas formas. Como um dos meus objetivos neste blog é divulgar bons livros e boa música, tenho que pedir licença para falar dessa obra que li ao longo de dois meses e que me fez ficar acordada até tarde, com a luz acesa, lendo o tempo inteiro.
O Tempo e o Vento, obra literária de Érico Veríssimo, entrará para a lista dos mais incríveis livros que já li. A série, dividida em três volumes - estes divididos em sete livros no total - estava na biblioteca da escola onde estudo, e sempre me chamaram muito a atenção, até o dia em que decidi lê-los, e me surpreendi. Os três volumes, O Continente, O Retrato e O Arquipélago, contam a história do estado do Rio Grande do Sul  e do Brasil ao longo de 200 anos. Sim, duzentos anos de história contados em forma de romance, com personagens marcantes, como Ana Terra, Bibiana, o Capitão Rodrigo e seu bisneto, Dr. Rodrigo.





Tudo começa quando uma mulher grávida chega a uma colônia de padres jesuítas e índios, no território dos Sete Povos das missões, em 1745, quando a região do Sul do Brasil ainda era pouco habitada, e disputada pelos índios, portugueses e espanhóis. A mulher dá à luz o índio Pedro Missioneiro, que presencia as lutas de Sepé Tiaraju, herói local, e vê sua aldeia ser destruída. Pedro, então, conhecerá Ana Terra, filha de Maneco Terra, comerciante de mulas de Sorocaba, que encantou-se pelo Rio Grande de São Pedro, e recebeu uma porção de terras, para onde se mudou com a família. Com o índio, Ana Terra tem um filho, que também se chamará Pedro, e após ter a estância invadida e saqueada e seu pai e irmão mortos por castelhanos, Ana Terra terá que ir embora com o filho, a cunhada e a sobrinha, partindo para o povoado  de Santa Fé, que começa a surgir. A trajetória da família acompanha a transformação do povoado em cidade, até o tempo do Estado Novo (1945).

A neta de Ana Terra, Bibiana, apaixona-se pelo forasteiro Capitão Rodrigo, um homem que amava a vida de todas as formas, e a partir daí é formada a família que habitará o Sobrado.
Segue abaixo uma árvore genealógica da família, desde as origens de Ana Terra e Pedro Missioneiro, até Floriano Cambará, que duzentos anos depois escreverá o romance que conta a história da família.
























A série conta diversos fatos históricos, entre eles, a Revolta Farroupilha (1935), o Primeiro(1822-1831) e o Segundo(1831-1889) Impérios, a República Velha e a Revolução de 1930, sempre destacando de forma explícita o modo de vida do gaúcho.
As mulheres de O Tempo e O Vento são sempre muito fortes, como Bibiana, que luta para reconquistar o terreno da casa onde cresceu e onde mais tarde foi construído O Sobrado, que resiste a dois sítios à sua própria casa, vendo o filho morrer à sua porta e vivendo quase até os cem anos. Seu bisneto, o Dr. Rodrigo, também é visto como um grande personagem, com sua história contada em O Retrato (o título refere-se ao retrato do personagem pintado quando este tinha vinte e quatro anos, que chamava atenção na cidade de Santa Fé), fazendo parte da política local e atuando de forma contraditória, sendo um homem que vivia como podia, apesar de acabar traindo seus ideais.


O Tempo e Vento teve várias adaptações para a televisão, primeiro como seriado da TV Excelsor, um ano depois da publicação de O Arquipélago (1967), exibido às 21:30h, com 210 capítulos. Mais tarde, em 1985, O Continente foi minissérie da Rede Globo.



Monumento em homenagem a Sepé Tiaraju, na cidade de São Luiz Gonzaga, RS




segunda-feira, 24 de junho de 2013

O Brasil Acordou








Antes eu me restringi aos acontecimentos da minha própria cidade, mas agora preciso escrever também sobre este fenômeno sensacional que tomou conta de todo o Brasil, esta mobilização que mostra a tomada de uma nova consciência do brasileiro.
Há duas semanas estou assistindo assiduamente ao Jornal Nacional e ouvindo o Papo Cabeça, programa de discussões da Rádio Interativa, de Goiânia.
Primeiro eram protestos isolados, cada um em sua cidade, noticiados apenas pelos jornais locais. Então, em São Paulo, as pessoas se mantiveram unidas por quatro dias seguidos. A coisa estava mudando de figura. As outras cidades começavam a "apoiar" São Paulo, sem deixar de apresentar suas próprias reivindicações.
Mas o que está acontecendo realmente no Brasil?



Eu digo o que está acontecendo...
Estávamos anestesiados, dopados por uma sensação de estabilidade, uma falsa ideia de que "estava tudo bem". O governo, pensando que passaria despercebido, cutucou nossa ferida que mais doía. O Brasil não e um país sem pobreza, não é um país onde a grande massa não sofre. Muito pelo contrário... Tínhamos que fazer alguma coisa. O brasileiro já vinha acumulando algumas raivas no peito. Raiva de ver nos jornais escândalos de corrupção, julgamentos onde os culpados são absorvidos, inflação voltando, preços subindo, salário rendendo menos. Aguentava tudo calado, triste, resignado. Para completar, passagem do ônibus mais cara. O ônibus atrasado, quebrado, desconfortável, lotado, às cinco da matina. Foi a gota d'água. Era só o que faltava para que o rio transbordasse.

É, a FIFA deve estar abismada com a gente. Aposto que não viverei o suficiente para ver outra copa do mundo ou Olimpíada no Brasil, e olha que ainda tenho muitas décadas de vida!



Mas isto que está acontecendo é uma coisa simplesmente linda, é a mais pura expressão da cidadania, pois governo até então não sabia - ou fingia não saber, o que acho mais provável - que estávamos completamente insatisfeitos. Diziam que o jovem de hoje vivia distraído pela TV e pela internet, que não tinha opinião, que era alienado. Não, não somos nada disso, e estamos provando pra todo mundo! Somos altamente interessados por política, temos o desejo de um futuro melhor!
No meio disto, posso destacar dois momentos muito bonitos... O primeiro foi, com certeza, na noite da segunda-feira passada, 17 de junho, quando os manifestantes em São Paulo foram saudados com uma chuva de papel pelos moradores dos prédios da Avenida Paulista. Era a primeira vez que os protestos eram apoiados por alguém que estava de fora. E o segundo, em Goiânia, na noite de quinta, dia 20, um DJ colocou o nosso Hino Nacional para tocar numa caixa de som, na janela, para os manifestantes que passavam, que pararam sua passeata para cantas o hino lá embaixo.

Não posso me esquecer que os atos de vandalismo - praticados por pessoas infiltradas nas passeatas, com o único objetivo de saquear lojas e depredar o patrimônio público e privado - têm ofuscado a beleza da união do nosso povo. Estes merecem toda a repressão da polícia, sem excessos, é claro, mas precisam ser punidos judicialmente, pagar pelos prejuízos causados ou cumprir outras medidas punitivas.

Eu gostaria muito de estar participando desse movimento tão bonito, de estar fazendo alguma coisa pelo futuro do meu país, mas infelizmente ainda sou menor de idade, e minha mãe considera perigoso que eu saia de casa para ir pras ruas, sozinha, sem saber se poderei voltar. Então, manifestantes, por mim, que não poderei me unir a vocês, continuem lutando, não percam o foco, sentem-se no chão para se diferenciarem dos vândalos, e não parem! Sou contra a PEC 37, a favor de melhorias na educação, na saúde e no transporte! Por favor, menos Pão e Circo!







Que orgulho devem estar sentindo os caras pintas de 92 - passados vinte e dois anos - da juventude de hoje!



segunda-feira, 17 de junho de 2013

Uma Linda Aquarela




E aproveitando que falávamos de Vinícius, eu gostaria também de estender minha homenagem a uma canção interpretada por outro grande poeta, Toquinho, uma canção que ouvi pela primeira vez ainda criança, e nunca deixou de gerar curiosidade em mim, e acho que em todas as outras pessoas que a ouviram: Aquarela.
O site oficial de Toquinho conta a história desta bela composição (confira aqui), fruto de uma parceria entre Toquinho e o músico italiano Maurizio Fabrizio, que juntos compuseram músicas para quatro discos entre 1983 e 1994. Mas não estamos aqui para isso. O que pretendo é passar ao leitor a impressão que sinto toda vez que a ouço.
Os quatro versos que compõem a primeira estrofe já são o suficiente para mexer com nossa imaginação. Desenhar talvez pareça um hábito infantil, para alguns, mas desenhar figuras como as descritas na canção, de forma tão simples, porém com todo o encanto que se vê na mente de uma criança, com certeza não é nem um pouco infantil.
A parte que mais me toca talvez seja aquela que nos traz o futuro como uma perspectiva vindoura, mas ao mesmo tempo imprevisível, que não se sabe quando virá, mas para a qual devemos estar preparados.

Mas qual seria a verdadeira magia de Aquarela? Sua simplicidade, talvez? Sim, mas não sozinha. O que mexe com as pessoas nesta canção é não só a simplicidade, mas o fato de trazer de volta toda a inocência e imaginação características da infância, referentes a uma época remota e distante, da qual todos nós de certa forma, temos uma imensa saudade, uma nostalgia pelo fato de ser um tempo ao qual não poderemos mais voltar, pois quando envelhecemos, simplesmente "descoloriu"... Ela vai nos trazendo, aos poucos, pedaços de um mundo infinito, repleto de possibilidades e cheio de beleza, que até o fim do último acorde emana em nossas mentes.
 



 
Numa folha qualquer
Eu desenho um sol amarelo
E com cinco ou seis retas
É fácil fazer um castelo...

Corro o lápis em torno
Da mão e me dou uma luva
E se faço chover
Com dois riscos
Tenho um guarda-chuva...

Se um pinguinho de tinta
Cai num pedacinho
Azul do papel
Num instante imagino
Uma linda gaivota
A voar no céu...

Vai voando
Contornando a imensa
Curva Norte e Sul
Vou com ela
Viajando Havaí
Pequim ou Istambul
Pinto um barco a vela
Brando navegando
É tanto céu e mar
Num beijo azul...

Entre as nuvens
Vem surgindo um lindo
Avião rosa e grená
Tudo em volta colorindo
Com suas luzes a piscar...

Basta imaginar e ele está
Partindo, sereno e lindo
Se a gente quiser
Ele vai pousar...

Numa folha qualquer
Eu desenho um navio
De partida
Com alguns bons amigos
Bebendo de bem com a vida...

De uma América a outra
Eu consigo passar num segundo
Giro um simples compasso
E num círculo eu faço o mundo...

Um menino caminha
E caminhando chega no muro
E ali logo em frente
A esperar pela gente
O futuro está...

E o futuro é uma astronave
Que tentamos pilotar
Não tem tempo, nem piedade
Nem tem hora de chegar
Sem pedir licença
Muda a nossa vida
E depois convida
A rir ou chorar...

Nessa estrada não nos cabe
Conhecer ou ver o que virá
O fim dela ninguém sabe
Bem ao certo onde vai dar
Vamos todos
Numa linda passarela
De uma aquarela
Que um dia enfim
Descolorirá...

Numa folha qualquer
Eu desenho um sol amarelo
(Que descolorirá!)
E com cinco ou seis retas
É fácil fazer um castelo
(Que descolorirá!)
Giro um simples compasso
Num círculo eu faço
O mundo
(Que descolorirá!)

Admirável Operário Em Construção



Apesar do caráter político que o blog assumiu recentemente, não pretendo fugir à minha proposta anterior de divulgação poética, e gostaria de aproveitar para trazer a vocês, leitores, um poema talvez não muito conhecido, porém não menos importante do nosso querido Poetinha, Vinícius de Moraes.
Publicado em 1959, mas talvez ofuscado por outras obras, como os famosos "Soneto de Fidelidade" e "Soneto de Separação", "Operário Em Construção", nos traz em verso, deixando muita coisa a se pensar, uma profunda critica social.
É, a meu ver, uma composição incrível, que deve ser compartilhada.
Conta a história de um simples trabalhador, pobre e humilde - como diz o nome, um operário - que nada sabia além de exercer seu ofício, duro e sofrido, que um dia se dá conta de que toda a riqueza e luxo nos quais vivia seu soberbo patrão, provinha de sua força de trabalho. Tomado por uma nova percepção do mundo, este recusa-se a voltar a ser um homem alienado, e portanto, ignorante, como era antes, e espalha sua nova visão entre os colegas, desagradando o patrão, que nem mesmo com a violência ou a promessa de riquezas imensas, consegue dobrá-lo, como pode-se perceber neste trecho:

"Sentindo que a violência
Não dobraria o operário
Um dia tentou o patrão
Dobrá-lo de modo vário.
De sorte que o foi levando
Ao alto da construção
E num momento de tempo
Mostrou-lhe toda a região
E apontando-a ao operário
Fez-lhe esta declaração:
- Dar-te-ei todo esse poder
E a sua satisfação
Porque a mim me foi entregue
E dou-o a quem bem quiser.
Dou-te tempo de lazer
Dou-te tempo de mulher.
Portanto, tudo o que vês
Será teu se me adorares
E, ainda mais, se abandonares
O que te faz dizer não.

Disse, e fitou o operário
Que olhava e que refletia
Mas o que via o operário
O patrão nunca veria.
O operário via as casas
E dentro das estruturas
Via coisas, objetos
Produtos, manufaturas.
Via tudo o que fazia
O lucro do seu patrão
E em cada coisa que via
Misteriosamente havia
A marca de sua mão.
E o operário disse: Não!

- Loucura! - gritou o patrão
Não vês o que te dou eu?
- Mentira! - disse o operário
Não podes dar-me o que é meu."

Alguma semelhança com algum texto conhecido? Se sim, saibam que não é coincidência. O trecho refere-se claramente a uma passagem bíblica:

E o Diabo, levando-o a um alto monte, mostrou-lhe num momento de tempo todos os reinos do mundo. E disse-lhe o Diabo:
- Dar-te-ei todo este poder e a sua glória, porque a mim me foi entregue e dou-o a quem quero; portanto, se tu me adorares, tudo será teu.
E Jesus, respondendo, disse-lhe:
- Vai-te, Satanás; porque está escrito: adorarás o Senhor teu Deus e só a Ele servirás.
Lucas, cap. V, vs. 5-8.

Vinícius deveria ter um bom motivo para escrever algo assim, e acredito que a nova visão que o operário contemplava era simplesmente algo que todo trabalhador um dia deve ter: a consciência de que seu trabalho tem força, pois a outra parte da sociedade depende de seu esforço.
O operário de Vinícius dava-se conta disso, e foi retaliado de várias formas, pois seu patrão sentiu-se ameaçado com essa repentina tomada de consciência. Mas este fato não se restringe a apenas um trabalhador, em apenas uma obra. Abrange, simbolicamente, toda uma nação de trabalhadores brasileiros. Tal nação não poderia ser melhor representada, senão por uma obra de Tarsila do Amaral:


Por isso, senti esta necessidade tão grande de compartilhar com vocês um de meus poemas preferidos:

Operário em Construção

Era ele que erguia casas
Onde antes só havia chão.
Como um pássaro sem asas
Ele subia com as casas
Que lhe brotavam da mão.
Mas tudo desconhecia
De sua grande missão:
Não sabia, por exemplo
Que a casa de um homem é um templo
Um templo sem religião
Como tampouco sabia
Que a casa que ele fazia
Sendo a sua liberdade
Era a sua escravidão.

De fato, como podia
Um operário em construção
Compreender por que um tijolo
Valia mais do que um pão?
Tijolos ele empilhava
Com pá, cimento e esquadria
Quanto ao pão, ele o comia...
Mas fosse comer tijolo!
E assim o operário ia
Com suor e com cimento
Erguendo uma casa aqui
Adiante um apartamento
Além uma igreja, à frente
Um quartel e uma prisão:
Prisão de que sofreria
Não fosse, eventualmente
Um operário em construção.

Mas ele desconhecia
Esse fato extraordinário:
Que o operário faz a coisa
E a coisa faz o operário.
De forma que, certo dia
À mesa, ao cortar o pão
O operário foi tomado
De uma súbita emoção
Ao constatar assombrado
Que tudo naquela mesa
- Garrafa, prato, facão -
Era ele quem os fazia
Ele, um humilde operário,
Um operário em construção.
Olhou em torno: gamela
Banco, enxerga, caldeirão
Vidro, parede, janela
Casa, cidade, nação!
Tudo, tudo o que existia
Era ele quem o fazia
Ele, um humilde operário
Um operário que sabia
Exercer a profissão.

Ah, homens de pensamento
Não sabereis nunca o quanto
Aquele humilde operário
Soube naquele momento!
Naquela casa vazia
Que ele mesmo levantara
Um mundo novo nascia
De que sequer suspeitava.
O operário emocionado
Olhou sua própria mão
Sua rude mão de operário
De operário em construção
E olhando bem para ela
Teve um segundo a impressão
De que não havia no mundo
Coisa que fosse mais bela.

Foi dentro da compreensão
Desse instante solitário
Que, tal sua construção
Cresceu também o operário.
Cresceu em alto e profundo
Em largo e no coração
E como tudo que cresce
Ele não cresceu em vão
Pois além do que sabia
- Exercer a profissão -
O operário adquiriu
Uma nova dimensão:
A dimensão da poesia.

E um fato novo se viu
Que a todos admirava:
O que o operário dizia
Outro operário escutava.

E foi assim que o operário
Do edifício em construção
Que sempre dizia sim
Começou a dizer não.
E aprendeu a notar coisas
A que não dava atenção:

Notou que sua marmita
Era o prato do patrão
Que sua cerveja preta
Era o uísque do patrão
Que seu macacão de zuarte
Era o terno do patrão
Que o casebre onde morava
Era a mansão do patrão
Que seus dois pés andarilhos
Eram as rodas do patrão
Que a dureza do seu dia
Era a noite do patrão
Que sua imensa fadiga
Era amiga do patrão.

E o operário disse: Não!
E o operário fez-se forte
Na sua resolução.

Como era de se esperar
As bocas da delação
Começaram a dizer coisas
Aos ouvidos do patrão.
Mas o patrão não queria
Nenhuma preocupação
- "Convençam-no" do contrário -
Disse ele sobre o operário
E ao dizer isso sorria.

Dia seguinte, o operário
Ao sair da construção
Viu-se súbito cercado
Dos homens da delação
E sofreu, por destinado
Sua primeira agressão.
Teve seu rosto cuspido
Teve seu braço quebrado
Mas quando foi perguntado
O operário disse: Não!

Em vão sofrera o operário
Sua primeira agressão
Muitas outras se seguiram
Muitas outras seguirão.
Porém, por imprescindível
Ao edifício em construção
Seu trabalho prosseguia
E todo o seu sofrimento
Misturava-se ao cimento
Da construção que crescia.

Sentindo que a violência
Não dobraria o operário
Um dia tentou o patrão
Dobrá-lo de modo vário.
De sorte que o foi levando
Ao alto da construção
E num momento de tempo
Mostrou-lhe toda a região
E apontando-a ao operário
Fez-lhe esta declaração:
- Dar-te-ei todo esse poder
E a sua satisfação
Porque a mim me foi entregue
E dou-o a quem bem quiser.
Dou-te tempo de lazer
Dou-te tempo de mulher.
Portanto, tudo o que vês
Será teu se me adorares
E, ainda mais, se abandonares
O que te faz dizer não.

Disse, e fitou o operário
Que olhava e que refletia
Mas o que via o operário
O patrão nunca veria.
O operário via as casas
E dentro das estruturas
Via coisas, objetos
Produtos, manufaturas.
Via tudo o que fazia
O lucro do seu patrão
E em cada coisa que via
Misteriosamente havia
A marca de sua mão.
E o operário disse: Não!

- Loucura! - gritou o patrão
Não vês o que te dou eu?
- Mentira! - disse o operário
Não podes dar-me o que é meu.

E um grande silêncio fez-se
Dentro do seu coração
Um silêncio de martírios
Um silêncio de prisão.
Um silêncio povoado
De pedidos de perdão
Um silêncio apavorado
Com o medo em solidão.

Um silêncio de torturas
E gritos de maldição
Um silêncio de fraturas
A se arrastarem no chão.
E o operário ouviu a voz
De todos os seus irmãos
Os seus irmãos que morreram
Por outros que viverão.
Uma esperança sincera
Cresceu no seu coração
E dentro da tarde mansa
Agigantou-se a razão
De um homem pobre e esquecido
Razão porém que fizera
Em operário construído
O operário em construção.  


Vinícius de Moraes

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Polêmica: Os Protestos Pela Redução da Tarifa de Ônibus em Goiânia




Mais um protesto contra o aumento da tarifa cobrada pelas empresas de ônibus foi realizado nesta quinta-feira, 06 de junho, em Goiânia (GO). Agora, o manifestantes - em sua maioria estudantes - desejam que o aumento do último dia 22, de R$ 2,75 para R$ 3,00, seja cancelado, por ser abusivo. Entretanto, os próprios manifestantes também têm se excedido. Creio que em sua euforia de lutar por um direito, estejam cometendo excessos.
Quando houve o primeiro protesto, antes do aumento da passagem ser declarado, os alunos da minha escola, o Colégio Estadual Parque dos Buritis, foram convidados por um estudante da UFG a participar da manifestação, que deveria ser pacífica. Extremamente entusiasmada com a ideia de pela primeira vez manifestar minha cidadania, eu só não participei do protesto porque precisava fazer uma prova, e o protesto aconteceu justamente durante o meu horário de aulas. O que me deixou decepcionada depois, foi o fato de saber que o protesto "pacífico" e "seguro" do qual eu pretendia participar resultou em confronto armado com a polícia. E realmente esta situação decepcionante vem se repetindo desde então.
Vemos nos jornais notícias de novos protestos, que resultam todos na mesma coisa: queima de pneus, repreensão, agressões, violência.
Será que não há uma forma diferente de expressar essa insatisfação com o aumento da passagem? Eu entendo que a população, quando encontra-se insatisfeita com algo, deve manifestar sua opinião de alguma forma, mas isto não precisa necessariamente terminar dessa forma.
Talvez o que está errado seja a forma como a polícia vem encarando estes protestos. Sim, claro, os estudantes fecham avenidas importantes, impedindo o trânsito e atrapalhando as pessoas, mas esta é a forma da qual se utilizam para chamar a atenção das autoridades. No último protesto, realizado ontem, a polícia interferiu para "garantir o direito de ir e vir" dos milhares de pessoas que precisavam utilizar a Avenida Anhanguera, uma importante avenida que cruza a capital goiana de um lado ao outro. Entretanto, é necessário compreender que expressar uma opinião, mesmo incomodando os outros, também é um direito dos manifestantes.
O que acho realmente interessante é que esta parcela insatisfeita da população não é ouvida, e acaba ficando mal vista perante a sociedade, ganhando a fama de arruaceiros. Por outro lado, os motoristas de ônibus, que exigiam aumento salarial foram atendidos em apenas alguns dias, porque milhares de pessoas precisam dos ônibus, e uma greve relacionada ao transporte público de uma cidade afeta toda a sua população. Entretanto, as empresas de ônibus não necessitavam aumentar a passagem que pagamos para depois acrescentar o aumento salarial de seus funcionários. O que as empresas queriam realmente era garantir o seu lucro, sem se importar minimamente com a opinião dos usuários do transporte público, que não é bom.
Não, isso está errado. Um estudante ou trabalhador, que depende de condução para chegar à escola, à faculdade ou ao seu local de trabalho e exerce seu direito de exigir um transporte digno e barato não é um arruaceiro. Os protestos foram abusivos, sim, mas a polícia também o foi em repreendê-los.






Apenas espero que o próximo protesto, se houver, não se exceda tanto, nem seja reprimido de forma tão violenta.

sábado, 1 de junho de 2013

Vamos Pensar Um Pouco...





O que mais vejo hoje em dia são pessoas que não têm opinião a dar sobre assunto nenhum. Como não ter? Somos seres humanos. Não há outro ser vivo (ao menos no Planeta Terra) tão complexo como nós. Sim, nossa mente é um sistema que representa mistério até hoje, embora os cientistas já entendam bastante sobre o que acontece no nosso cérebro enquanto falamos, andamos, comemos, corremos, estudamos, enfim, enquanto realizamos as mais variadas ações. Aonde quero chegar realmente é que, se aquilo que nos diferencia dos animais é o pensamento, a capacidade de criar conscientemente, por que não estamos usando tal dom de maneira adequada? Uma das características mais interessantes do meu pai é o fato de pensar, e pensar muito, a respeito de tudo, ter opinião formada sobre fatos políticos, esportivos, sociais, culturais, históricos. Vendo-o conversar com outras pessoas como ele, um sentimento de filha admiradora me faz pensar que ele é o homem mais inteligente do mundo. Sei que ele não é, mas é o que sinto. E eu que sou jovem, vejo que a maioria esmagadora das pessoas da minha idade - e infelizmente, pessoas mais velhas também - não têm o que dizer a respeito do mundo. O que dizem, o que pensam, é um resumo de algo de leram numa rede social, ou viram num filme, ou pior, ouviram numa dessas terríveis músicas que não saem mais da cabeça da gente. Algumas mentes são tão pequenas, que não são capazes de gerar seus próprios pensamentos. Alguém consegue explicar por que isso acontece? Acho que não.
A famosa frase do programa Telecurso 2000, "Vamos pensar um pouco", ganha um sentido bem mais amplo agora. Por que não ler, não manter-se informado sobre assuntos gerais, inteirar-se de que existe um mundo bem maior do que o círculo no qual vivemos, e que simplesmente ignorar isso não é viver realmente hoje em dia?
Sim, o que falta hoje é pensamento. Opinião formada, senso crítico, perspicácia, isto é, pensar antes de falar, possuir uma identidade, não ser "mais um na multidão", calado, mudo, resignado. Já dizia Clarice Lispector: "Depois que aprendi a pensar por mim mesma, nunca mais pensei igual aos outros".


sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Vizinhança Suja

Moro num bairro afastado do centro de Goiânia, um bairro que até alguns anos atrás ainda não tinha ruas asfaltadas, e ainda tem muitos problemas a serem resolvidos. Um deles é a sujeira sempre presente nos lotes vazios. É um bairro jovem, ainda há casas sendo construídas, e lotes vazios, e nesses lotes que ainda não estão cercados com muro ou portão, os moradores jogam seu entulho, como móveis velhos, restos de construção, e todo tipo de coisa que não pode mais ser aproveitada, atraindo bichos como cães de rua e ratos. Nestes lotes vazios sempre há mato, que cresce e chega a ficar da altura das casas quando chove. Estes dois graves problemas incomodam os moradores e prejudicam sua saúde e segurança, porque além de o lixo de ser propício a doenças, o mato alto - altíssimo - também serve de esconderijo para bandidos.
Por isso, fiz dois vídeos mostrando minha vizinha.
Este, com a queima de lixo atrás da escola onde estudo:



E este, com o mato alto e o lixo, disponível no YouTube, a partir deste link:



terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Chega de Reality Shows


A População Sem Vida Própria



Se existe uma coisa que me irrita intensamente é essa bobagem que as emissoras de TV inventaram para ganhar mais dinheiro: os chamados reality shows, aqueles programas em que um monte de gente sem o que fazer fica confinada numa casa disputando uma quantia em dinheiro que (quem diria!) sai do bolso dos espectadores que assistem e ligam semanalmente para tirar ou salvar fulano de tal.
Sobram programas desse tipo na televisão, que existem por causa de pessoas que pensam que podem ficar ricas sem trabalhar duro pra isso, e pessoas que não têm vida própria, por isso precisam sentar no sofá para ver outros sujeitos espertos, igualmente ocupados, indo a festas, participando de provas ridículas e “armando barracos” que só servem para gerar mais audiência.
Os semelhantes se atraem, portanto, penso que quem gosta desses programas também pensa que é possível ganhar a vida sem estudar. É alguém que acha que vai ficar rica e famosa depois de posar nua ou namorar um jogador de futebol. É um indivíduo totalmente dispensável na sociedade, porque provavelmente é alguém que no ano das eleições vai votar “em qualquer um” porque “nada nunca vai mudar”.
É o que mais vejo nas escolas. No início do ano, o assunto de todos os alunos (ou pelo menos a maioria deles) é saber quem vai sair e quem vai ficar no BBB. Que realidade infeliz. É muito triste saber que meus colegas de classe sonham com isso e só vão à escola por obrigação, esquecendo-se de que o estudo público é um direito conquistado depois de muita luta.
Por isso estou falando: é mais inteligente ir dormir, ler jornal, sair de casa, assistir programas para crianças de três anos de idade do que ver uma coisa dessas, que apenas polui as nossas mentes com ideias falsas que a televisão quer vender.

By: Lethycia Dias